2024-06-05
Por Rainer Zitelmann
Será o sistema capitalista responsável pela fome e pela pobreza? Neste artigo, o historiador e sociólogo Rainer Zitelmann coloca o advento do capitalismo no devido contexto histórico, mostrando como o sistema económico capitalista impulsionou uma grande melhoria nas condições de vida das populações, ao contrário do que sucedeu com as experiências anticapitalistas.
Antes da emergência do capitalismo, a maioria das pessoas no mundo vivia em extrema pobreza. Em 1820, cerca de 90% da população mundial vivia em pobreza absoluta. Hoje, este número reduziu-se para menos de 10%. E eis o mais notável: nas últimas décadas, o declínio da pobreza acelerou a um ritmo sem paralelo em qualquer período anterior da história humana. Em 1981, a taxa de pobreza absoluta era de 42,7%; em 2000, tinha caído para 27,8% e, em 2021, estava abaixo dos 10%. Esta tendência, que persiste há décadas, é o facto crucial. É verdade que a pobreza voltou a aumentar nos últimos anos. Mas isso deveu-se em grande parte à pandemia global da Covid-19, que exacerbou a situação em países onde a pobreza já era relativamente elevada.
Para compreender a questão da pobreza, precisamos de olhar para a história. Muitas pessoas acreditam que o capitalismo é a causa fundamental da pobreza e da fome a nível global. Têm uma imagem completamente irrealista da era pré-capitalista, influenciada por obras clássicas como A Situação da Classe Trabalhadora em Inglaterra, de Friedrich Engels. Nessa obra, Engels denunciou as condições de trabalho sob o capitalismo primitivo com termos muito drásticos e traçou um quadro idílico dos trabalhadores artesãos antes de o trabalho mecânico e o capitalismo aparecerem para destruir esta bela vida: «Assim, os trabalhadores viviam uma existência em geral suportável e levavam uma vida honesta e tranquila, em tudo piedosa e honrada; a sua situação material era bem melhor que a dos seus sucessores; não tinham necessidade de se matarem a trabalhar, não faziam mais do que lhes apetecia e, no entanto, ganhavam para as suas necessidades e tinham tempos livres para um trabalho são no jardim ou no campo, trabalho que era para eles uma forma de descanso, e podiam, por outro lado, participar nas distrações e jogos dos seus vizinhos; e todos estes jogos, chinquilho, pela, etc., contribuíam para a manutenção da sua saúde e para o seu desenvolvimento físico. Eram, na sua maior parte, pessoas vigorosas e bem constituídas, cuja constituição física era muito pouco ou nada diferente da dos camponeses, seus vizinhos. As crianças cresciam no bom ar do campo e, se tinham que ajudar os seus pais no trabalho, faziam-no ocasionalmente, e nunca durante um dia de trabalho de oito ou doze horas.»
A imagem que muitas pessoas têm da vida nos tempos pré-capitalistas foi transfigurada muito para lá da realidade por estas e por outras descrições romantizadas. Elas imaginam que a vida antes do capitalismo era uma espécie de excursão moderna ao campo. Por isso, olhemos de forma mais objetiva para a era pré-capitalista nos anos e séculos anteriores a 1820.
Como escreve Angus Deaton, Prémio Nobel da Economia, no seu livro A Grande Evasão, «os trabalhadores de baixa estatura do século XVIII viviam efetivamente presos numa armadilha nutricional; não tinham como ganhar mais em virtude da sua extrema debilidade física e não tinham como comer porque, sem trabalho, não dispunham do dinheiro necessário para comprar comida.» Há quem se entusiasme com as harmoniosas condições pré-capitalistas onde a vida era muito mais lenta, mas esta lentidão resultava principalmente da debilidade física causada pela permanente desnutrição. Com efeito, estima-se que, há 200 anos, cerca de 20% dos habitantes de Inglaterra e França se encontrassem totalmente incapazes de trabalhar.
As maiores fomes causadas pelo Homem nos últimos 100 anos ocorreram sob o socialismo. Na sequência da Revolução Bolchevique, a fome russa de 1921/22 custou a vida a 5 milhões de pessoas, segundo números oficiais da Grande Enciclopédia Soviética de 1927. As estimativas mais altas situam o número de mortos pela fome entre 10 e 14 milhões. Apenas uma década depois, a coletivização socialista da agricultura de Joseph Estaline e a “liquidação dos culaques” desencadearam a grande fome seguinte, que matou entre 6 e 8 milhões de pessoas. E o "Grande Salto em Frente" de Mao, no final da década de 1950, a maior experiência socialista da história da humanidade, custou a vida a 45 milhões de pessoas na China. «Quando o termo ‘fome’ é usado», escreve o sinólogo alemão Felix Wemheuer no seu livro A Grande Fome, «a primeira coisa que a maioria das pessoas pensa é em África. No século XX, porém, 80% de todas as vítimas da fome morreram na China e na União Soviética.»
Quando pensam em “fome e pobreza”, é típico as pessoas caírem no equívoco de pensarem no capitalismo e não no socialismo, o sistema que foi realmente responsável pelas maiores fomes do século XX.
O autor aprofunda estes e outros argumentos a respeito da fome e da pobreza no primeiro capítulo do seu livro Em Defesa do Capitalismo: um Antídoto para os Mitos Anticapitalistas, publicado pelo Instituto Mais Liberdade em parceria com a editora Alêtheia.
Narração da versão áudio: Pedro Almeida Jorge.
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