2025-06-25
Por Javier Milei
No passado dia 8 de junho, no seu discurso de encerramento do Madrid Economic Forum, o Presidente da Argentina, Javier Milei, ofereceu uma retrospetiva dos desafios encontrados, das medidas implementadas e dos resultados obtidos, vincando que pretende "fazer da Argentina o país mais livre do mundo".
Dada a relevância do seu testemunho, traduzimos e publicamos os principais excertos do discurso sobre as reformas económicas do Governo Milei.
Hola a todos.
Antes de mais, quero agradecer-vos por este acolhimento. Enche-me de alegria e de orgulho, mas, acima de tudo, sei que traz consigo uma enorme responsabilidade de ser o primeiro presidente liberal-libertário da história. Por isso, agradeço-vos.
No que diz respeito à palestra de hoje, ela terá basicamente três partes, onde, após uma breve introdução sobre os mitos da política que estamos a derrubar, farei uma breve descrição das condições iniciais com que nos deparámos. Vou dizer-vos como fizemos o que agora se está a tornar realidade, e depois vou contar-vos como é a Argentina que vejo para o futuro.
A título de introdução, há cerca de um mês ou dois, no máximo, um dos meus brilhantes ministros, o Dr. Federico Sturzenegger, dizia: «Na Argentina estamos a derrubar três mitos sobre a política económica.» Ele comenta que muitos presidentes ou ministros da economia de diferentes partes do mundo, confrontados com os problemas do endividamento e do défice fiscal – que é o reverso do endividamento – dizem-lhe que precisam de fazer um ajustamento fiscal. E dizem-lhe: «Bem, vocês fizeram um ajustamento orçamental.» E Federico responde: «Bem, quanto é que têm de ajustar?» «Bem, quatro, cinco pontos do PIB.» E então ele diz-lhes: «E quanto é que acham que conseguem ajustar por ano?» «Bem, um ponto.» Ao que Federico responde: «E o que me dizem de fazer um ajustamento de cinco pontos do PIB num mês?» E eles respondem: «Não, não, mas isso é impossível.» «Bem, foi o que fizemos na Argentina.»
Ou seja, o primeiro mito que derrubámos é o que se refere à relação entre o quantum e o tempo. Ou seja, quando chegámos ao governo, em rigor, fizemos um ajustamento de sete pontos do PIB. Basicamente, chegámos com uma situação muito crítica e, se não ajustássemos, eu não estaria aqui hoje como presidente da Argentina. E, em certo sentido, exagerámos no ajuste, porque diante daquela situação era um puro momento de motosserra. Mas funcionou.
O segundo mito tem que ver com a ideia de que, se fazemos um ajustamento com estas características, a economia vai entrar em recessão, o desemprego vai chegar à estratosfera e o número de pobres e indigentes vai subir para níveis socialmente insuportáveis. Com efeito, entre o ajustamento do Tesouro e o ajustamento do Banco Central, fizemos um ajustamento de 15 pontos do PIB, sendo que outros ajustamentos de metade do valor deste ajustamento haviam gerado descidas do PIB de pelo menos 11% a 15%. Portanto, previa-se que iríamos entrar numa Grande Depressão. No entanto, nós mudámos o tipo de ajustamento. Decidimos que o ajustamento não tinha de ser feito através do aumento de impostos, que não tinha de ser feito através da inflação, que não tinha de ser feito através da dívida, que o ajustamento tinha de ser feito pelo parasita, o ajustamento tinha de recair sobre o sector público. Assim, reduzimos a despesa pública em 30% em termos reais. Fizemos um ajustamento do PIB de 15 pontos do PIB, e isso significou devolver rendimentos ao sector privado. E a consequência foi que, quando comparamos dezembro de 2024 com dezembro de 2023, não só não houve queda do PIB, como ele subiu 6%. Ajustámos com expansão económica.
Mas não só isso: durante todo o primeiro trimestre deste ano, a economia cresceu a uma taxa de 6% e, agora, no segundo trimestre, estamos a crescer a 8%. Portanto, não acreditem no que dizem os políticos da treta, que o ajustamento é recessivo: se for a política a pagar, o sector privado cresce.
E o terceiro mito é que, quando se faz o ajustamento, mesmo que seja algo de que a economia precisa para se reerguer, isso implica uma queda de popularidade, uma degradação da imagem. Nesse sentido, no Triângulo de Ferro – que é a minha irmã Karina, a Chefe, que está aqui… [- Levanta-te, Chefe! Dá-lhe! Eis a arquiteta do triunfo liberal!], e esse brilhante consultor que também está connosco, Santiago Caputo – perante esta situação, dissemos: viemos aqui para cumprir uma tarefa. Se há uma imagem e ela tem de ser degradada por uma boa causa, pois que seja degradada. Temos de fazer o que temos de fazer. Há que de deixar de estar a olhar para os votos e há que de fazer o que a economia requer.
Pois bem, ao contrário do que todos acreditavam, que a imagem, o apoio e a popularidade se degradariam pelo ajustamento, os níveis de popularidade são hoje mais elevados do que eram quando assumimos o poder. E, se virmos o que dizem as consultoras internacionais, estão até muitíssimo mais alto. Por outras palavras, o ajustamento não provoca perda de imagem, se este recair sobre a classe política; a imagem melhora, porque isto significa dar recursos ao povo.
E agora, indo ao cerne da discussão, creio que uma das razões pelas quais conseguimos fazer o que estamos a fazer, e para o apoio continuar – e não apenas em termos de imagem, mas também em termos de resultados eleitorais – é que durante a campanha dissemos que preferíamos dizer uma verdade desconfortável do que uma mentira confortável. Por outras palavras, nunca mentimos às pessoas. Dissemos sempre o que íamos fazer e, nesse sentido, a nossa política foi sempre clara. A nossa política económica foi clara, quando dissemos que íamos passar a motosserra pelo Estado. A nossa posição em relação ao Banco Central foi clara: embora se chamasse dolarização, e as pessoas andassem com notas de dólar com a minha cara, nós falámos sempre de uma dolarização endógena, que está agora em curso. E falámos também, a nível institucional, em avançar para as ideias da liberdade, em fazer reformas estruturais que fizessem da Argentina o país mais livre do mundo. E tudo isto, em matéria económica, não só estamos a conseguir, como, apesar de termos objetivos muito ambiciosos, que se diziam impossíveis, hoje, ao fim de um ano e meio, ultrapassámos todos os objetivos da nossa campanha.
(…)
Portanto, declarámos o que íamos fazer, porque, se há algo que me caracterizou ao longo da minha vida, foi não só dizer o que penso, mas também fazer o que digo. E, depois de tantos anos na tribuna a dizer o que era preciso fazer, decidi entrar em campo para defender as ideias da liberdade e para que o modelo da liberdade triunfe em todo o mundo.
Naturalmente, podem imaginar que um liberal-libertário tornar-se presidente de um país é algo que não acontece em condições normais de pressão e temperatura. A verdade é que, quando chegámos ao poder, a Argentina conjugava o pior das suas três piores crises da história, o que, se se tivesse verificado, teria claramente sido uma verdadeira catástrofe. Basicamente, tínhamos um desequilíbrio monetário que era o dobro do que tínhamos em 1975, quando rebentou uma crise chamada “Rodrigazo”, basicamente duplicou a taxa de inflação. Pensem que, se a Argentina já vinha com níveis de inflação de cerca de 300%, isto teria levado a inflação para pelo menos 2000%. Ao mesmo tempo, tínhamos uma situação de bancarrota no Banco Central, ainda pior do que a que tivemos em 1989, quando rebentou a hiperinflação de Alfonsín – basicamente, deixaram-nos no passivo do Banco Central o equivalente a quatro bases monetárias, com vencimento ao dia. Ou seja, podíamos ter quintuplicado a quantidade de dinheiro num dia; por outras palavras, estava tudo a postos para um surto hiperinflacionário. Mas não só isso: os indicadores sociais que tínhamos eram também piores do que os de 2001. De facto, quando tornámos as variáveis macroeconómicas mais transparentes – porque havia, entre outras coisas, uma diferença de 200% no mercado cambial entre o dólar oficial e o dólar paralelo, havia também controlo de preços, e isso claramente não se refletia nas estatísticas, a escassez não aparecia nas estatísticas – quando tornámos tudo mais transparente, a pobreza registada obviamente saltou para os 57%. Mas, um ano depois, a pobreza desceu para 35%. Por outras palavras, nós, liberais sem coração, que não temos empatia, que não nos preocupamos com os pobres, reduzimos a pobreza em 22 pontos percentuais. Ou seja, tirámos 10 milhões de pessoas da pobreza. Vejam como as ideias da liberdade funcionam para todos, especialmente para aqueles que menos têm!
Naquele desastre macroeconómico que nos deixaram, tínhamos também o equivalente a 90 mil milhões de dólares de dívida em pesos, com maturidade em menos de três meses, o que significaria “só” 15 pontos do PIB de base monetária adicional, quando a base monetária na Argentina nessa altura era de 2,5 pontos. Por outras palavras, só por aí, teríamos multiplicado a quantidade de dinheiro por sete vezes e meia.
Não só isso: o governo anterior, com os controlos cambiais, também dava aos seus amigos o direito de importarem ao câmbio oficial. E isso deixou o Banco Central com uma dívida de 45 mil milhões de dólares. Além disso, o fracasso sistemático no cumprimento das metas para com o Fundo Monetário Internacional fazia com que o acordo estivesse suspenso. Ou seja, encontrávamo-nos numa situação em que, se não agíssemos rapidamente, teríamos acabado em incumprimento com os organismos multilaterais, em incumprimento comercial e em incumprimento no sistema financeiro local, o que teria sido um verdadeiro desastre macroeconómico e teria levado a pobreza para níveis de, pelo menos, 95%.
Ao mesmo tempo, tínhamos um défice orçamental no Tesouro de 5% do PIB e tínhamos dívida com juros no Banco Central, os quais em conjunto ascendiam a 15 pontos do PIB. Neste sentido, a primeira etapa do plano de estabilização foi aplicar a motosserra. A motosserra, basicamente, envolveu um ajustamento inicial no Tesouro de 7 pontos do PIB, que com o tempo se foi recompondo e acabou por ser de 5 pontos do PIB. Neste contexto, reduzimos o número de ministérios para um terço, despedimos mais de 50 000 funcionários públicos e não renovámos a grande maioria dos contratos que se venciam, implementando um ajustamento verdadeiramente drástico. Acabámos por eliminar as obras públicas, que são uma fonte de corrupção interminável, e também acabámos com a publicidade oficial nos meios de comunicação, motivo pelo qual todos os dias dizem mal de nós
(…)
Após colmatarmos o défice orçamental — isto é, desde uma compreensão da natureza monetária da inflação, sabíamos que tínhamos de cortar a emissão e colmatar o défice orçamental numa primeira fase, e assim o fizemos. A Argentina, nos 123 anos anteriores, sempre teve défice orçamental, e se houve períodos em que não o teve, foi porque estava em default. Adotámos uma política de défice zero e decidimos que não haveria mais défice orçamental na Argentina. A Argentina é hoje um dos cinco países do mundo que não tem défice orçamental. Conseguimos isso após 123 anos de história em que ninguém o tinha conseguido, e nós conseguimo-lo no primeiro mês de governo.
Mas, como diz esse colosso que tenho como Ministro da Economia, Luis "Toto" Caputo, mesmo tendo posto as contas orçamentais em ordem, o Tesouro não era suficiente, porque o problema que tínhamos no Banco Central era o dobro do problema do Tesouro. E se não tivéssemos resolvido a questão do Banco Central, teríamos tido hiperinflação de qualquer forma, com a complicação adicional de a termos provocado em conjugação com a implementação de um ajustamento fiscal, o que teria sido tremendamente letal para as ideias da liberdade. Neste sentido, numa tarefa monumental e colossal, "Toto" Caputo, em conjunto com o presidente do Banco Central, Santiago Bausili, e o Secretário das Finanças, iniciaram os trabalhos de saneamento do balanço do Banco Central. E à medida que demonstrávamos que a solvabilidade fiscal tinha vindo para ficar, foi possível começar a liquidar a dívida do Banco Central. Assim, em meados do ano passado, foi concluída a segunda etapa do programa, que foi quando a emissão monetária terminou, o défice quase-fiscal da Argentina foi eliminado, as contas do Banco Central foram saneadas e a oferta de moeda manteve-se estável desde então.
Ou seja, naquele momento, passámos para o que era emissão zero, onde a base monetária ampla na Argentina se encontra fixa. Além disso, no meio de um ataque especulativo, a taxa de câmbio paralela tinha disparado e nós dissemos: as taxas de câmbio vão convergir, mas vão convergir com uma descida da taxa de câmbio paralela, e efetivamente foi isso que aconteceu.
No entanto, percebemos que a economia argentina estava a recuperar muito fortemente. A partir de abril, a economia começou a dar sinais muito importantes de recuperação; aliás, entre dezembro e abril, cresceu a 10%. Neste sentido, adicionalmente, a monetização da Argentina era também muito baixa, pelo que, perante esta situação em que antevíamos um aumento da procura de moeda, deixar a quantidade de moeda fixa criaria um problema: uma vez liquidado o excedente monetário, a economia argentina poderia entrar num contexto de deflação.
Foi neste contexto que lançámos a dolarização endógena, ou seja, permitimos que os agentes fizessem todas as transações na economia, exceto o pagamento de impostos, em moeda estrangeira. E, assim, cumpríramos também outra promessa de campanha que diziam ser impossível. As pessoas ainda não faziam transações em moeda estrangeira, ou seja, isto ainda não era um problema, porque ainda sobrava dinheiro, mas eu disse: mais cedo ou mais tarde o problema ia aparecer.
Enquanto isso, ainda tínhamos restrições no mercado cambial. A esse respeito, para nós, o “cepo” era um instrumento de tortura e, além disso, era um instrumento pelo qual éramos criticados, não só por aqueles que tinham posto o “cepo” em prática, mas também por aqueles liberais a que eu chamo não liberais-libertários, mas liberais-libertarados. (…) Portanto, dada a aberração que o “cepo” cambial implica, essencialmente porque restringe a liberdade de uma pessoa fazer o que quer com o seu dinheiro, condicionando o seu leque de escolha, e isso é uma afronta insuportável para um liberal-libertário; mas, para além disso, pelo facto obrigar as pessoas a deter mais moeda nacional do que desejam, alargando a base de incidência do imposto inflacionista, que é também um imposto não legislado, ou seja, inadmissível até para um liberal clássico; por essas razões, o “cepo” tinha então impreterivelmente de ser eliminado e, nesse sentido, começámos a trabalhar num programa com o Fundo Monetário Internacional para limpar as contas do Banco Central. E a ideia foi que, na medida em que o Estado Nacional colocou títulos públicos intransmissíveis no Banco Central, ficando-lhe assim com os dólares, nós considerámos que era altura de recapitalizar o Banco Central. Por isso, fizemos um acordo com o Fundo Monetário Internacional para ir resgatando essa dívida do Banco Central, sempre de modo que a dívida total não aumentasse, mas que os pesos que os argentinos têm agora no bolso valessem alguma coisa. Por outras palavras, fizemos o ajustamento à casta, para devolver o dinheiro às pessoas de bem.
Neste contexto, estimávamos que, para conseguir sair do “cepo”, precisaríamos de cerca de 12 mil milhões de dólares, e, como tanto o "Toto" como eu somos pessoas muito avessas ao risco (espero que compreendam que sou avesso ao risco – penso que é como uma situação em que estou despido, todo molhado, numa cadeira eléctrica, pelo que tenho de ter muito cuidado com os fios que vou ou não cortar…), dissemos que, se conseguíssemos 15 mil milhões de dólares, iríamos levantar o “cepo” – por forma a termos 3 mil milhões de dólares de folga para o caso de algum ataque especulativo. E, neste contexto, deram-nos 20 mil milhões de dólares, em dinheiro. Mas houve quem dissesse que não, que eu não ousaria levantar o “cepo” em ano eleitoral, porque isso faria explodir a taxa de câmbio e a taxa de inflação seria de 5 ou 7%. A escória dos meios de comunicação, os jornalistas corruptos, ocuparam-se a espalhar estas notícias sujas, mesmo que ninguém tivesse feito tais previsões.
Mas, apesar de estarmos em ano de eleições, apesar de dizerem que a taxa de câmbio ia para o teto do intervalo, contrariamente ao que todos opinavam, levantámos o “cepo” e concluímos a terceira fase do programa. Levantámos o “cepo” e, longe de ter disparado para o teto do intervalo, hoje a taxa de câmbio está a negociar muito mais perto do chão do intervalo, o que, mais uma vez, é um ponto a favor do governo e um ponto contra os econo-vigaristas e os jornalistas envelopados.
De facto, depois de terem antecipado taxas de inflação de 5 a 7% ao mês, é verdade que a taxa de inflação saltou para 3,7%; só que disseram que se manteria nos níveis de 5 e 7%, e acontece que no mês seguinte caiu para 2,8% e este mês prevê-se que desça dos 2%, e digo-vos aqui que, para o ano que vem, a inflação na Argentina será coisa do passado.
Mas isto não é tudo. Durante muito tempo as autoridades fiscais perseguiram os argentinos que queriam proteger-se da burla que era a inflação. De facto, a Argentina retirou três zeros da sua moeda e hoje também poderíamos retirar outros três zeros pela mesma razão. Por outras palavras, a política monetária na Argentina tem sido uma fraude recorrente. Além disso, por não se querer corrigir a origem do problema, que era o défice fiscal, os argentinos foram perseguidos com leis soviéticas por quererem escapar a esta burla. Assim, por exemplo, em vez de agarrarem e refrearem a emissão monetária, como isso implicava refrear o défice fiscal, os políticos recorreram ao controlo dos preços; quando o controlo dos preços não funcionou, recorreram à Lei de abastecimento, ou seja, a outro Édito de Diocleciano. Ou, por exemplo, quando, para proteger as suas poupanças contra a inflação do peso, um argentino se refugiava em dólares, os políticos impunham-lhe a lei penal cambial e controlos de capitais. Os argentinos eram perseguidos como se fossem criminosos. Na verdade, chegámos a um ponto de loucura em que as autoridades fiscais argentinas consideravam todos os argentinos culpados até prova em contrário. (Não tenho dúvidas de que, com o vosso líder socialista, vocês têm hoje o mesmo problema...)
No entanto, há uns dias, apresentámos uma nova desregulamentação relativa ao dia da libertação e à reparação histórica aos aforradores, em que permitimos que os argentinos de bem utilizem os seus dólares não declarados para fazerem transações. Acabou-se essa ideia de que as pessoas são culpadas até prova em contrário. Agora nós argentinos somos inocentes até prova em contrário.
(…)
Portanto, depois de tantas conquistas, começou a hora do crescimento. Hoje a Argentina entrou no caminho que, se continuar a abraçar as ideias da liberdade, dentro de 40 anos será, sem dúvida, a primeira potência mundial.
Neste sentido, o que vou fazer agora é transmitir-vos cada um dos elementos que são o pilar do crescimento económico. Em primeiro lugar, o ajustamento fiscal de 15 pontos do PIB devolveu rendimentos aos argentinos. Isto permitiu a recuperação da atividade económica, a recuperação dos salários, a recuperação das pensões e a recuperação do ciclo de investimento. Isto permitiu que a economia começasse a recuperar muito fortemente a partir de abril do ano passado.
Mas não é só isso: o défice zero significa que a dívida se mantém inalterada. Ainda assim, conseguimos reduzi-la em 45 mil milhões de dólares, a primeira vez na democracia argentina que a dívida baixou – com democracia quero dizer de 1983 até hoje. Mas o mais importante é que a política de défice zero significa que o rácio dívida-produto não está a aumentar. Isto implica que a Argentina é intertemporalmente solvente, que a Argentina pode honrar a sua dívida. E, para além disso, também significa que o risco-país, que era de 3000 pontos-base na altura em que ganhámos as eleições, está agora em 600 pontos-base. E não tenham dúvidas de que, se o país se cobrir de violeta em outubro, vamos pulverizar o risco-país e estaremos a caminho de nos tornarmos “investment grade”.
Portanto, na medida em que a taxa de risco-país desça e a taxa de juro desça, o stock de capital per capita da economia aumentará e, por conseguinte, a produtividade aumentará, os salários aumentarão e teremos um nível de vida mais elevado. Nesse sentido, um trabalho de um economista argentino muito prestigiado, chamado Juan Pablo Nicolini, que trabalha na Reserva Federal Americana, estimou que, dado o ajustamento que fizemos, levando o défice a zero, isso poderia significar que a Argentina poderia crescer em termos per capita a 4% ao ano, de forma sustentada durante um grande número de anos, que poderá variar entre 10 e 20 anos.
No entanto, como salienta Nicolini, este método não tem em conta o tipo de ajustamento. Se considerarmos que o ajustamento não foi feito através do aumento de impostos, mas sim através da redução da despesa pública, e se considerarmos também que já fizemos mais de 2500 reformas estruturais, a Argentina vai crescer muito fortemente e os números estão a mostrar que a Argentina está a caminho de voltar a ser grande.
Além disso, acabar com a inflação tem dois impactos muito positivos. Em primeiro lugar, porque elimina a distorção dos preços relativos, alarga o horizonte temporal e, desta forma, os recursos podem ser alocados de uma melhor forma. Ao mesmo tempo, sendo um imposto altamente regressivo, distorcia a relação entre poupança e investimento e, portanto, também a taxa de juro e a acumulação de capital, levando a que se fizessem investimentos incorretos, porque os preços relativos estavam basicamente distorcidos. Isto significa que, ao acabar com a inflação, essa distorção desaparecerá. E isso, embora seja um efeito de uma vez para sempre, levará a um salto no PIB per capita que, em todo o horizonte, se manifestará também como crescimento.
Por outro lado, como consideramos que o Estado é uma organização criminosa, consideramos que os impostos são um roubo. Nesse sentido, no ano passado, ainda neste processo de estabilização, não só deixámos de enganar os argentinos com a senhoriagem, como também baixámos os impostos explícitos em dois pontos do PIB, algo que nunca tinha sido feito na história da Argentina. Mas podem imaginar que, se eu considero os impostos um roubo, não vou ficar aqui. Nesse sentido, estamos a trabalhar numa reforma fiscal que, de acordo com as estimativas que temos, caso eu seja reeleito, poderá vir a reduzir os impostos em mais de um ponto e meio do PIB por ano até 2031, o que significaria devolver nem mais nem menos do que 500 000 milhões de dólares aos argentinos. Isso é que é ser libertário!
Por outro lado, estamos também a trabalhar arduamente no Ministério do Capital Humano. Temos um Ministério do Capital Humano que integra o capital humano de primeira geração, que basicamente tem a ver com saúde e alimentação, porque se uma pessoa não se alimentar nem tiver boa saúde, não se poderá educar. Isto, portanto, também integra o capital humano de segunda geração, que tem a ver não só com a possibilidade de estudar, mas também com a possibilidade de reintegrar aqueles que foram ficando pelo caminho. Pois lembrem-se que estamos a partir de uma economia desequilibrada. E a terceira parte com a qual se integra é com o mercado de trabalho. Neste sentido, estamos a trabalhar no capital humano de primeira e de segunda geração, para que possa ser inserido no mercado de trabalho, onde hoje quase metade do emprego na economia é informal. Por conseguinte, isto não só implicará uma melhoria das condições de trabalho, mas também, na medida em que o fosso entre os trabalhadores formais e o emprego total se vá colmatando – ou seja, em que os empregos informais forem reduzidos –, isso permitir-nos-á também reformar o sistema de segurança social e, desta forma, teremos também uma segunda ronda adicional de crescimento no futuro.
Obviamente, chegamos também a outro dos ministérios-estrela. Há dois ministérios de que me orgulho muito – quer dizer, para além do Ministério da Economia, com o qual tenho uma relação simbiótica, para além de adorar o trabalho da Ministra Bullrich, do Ministro Petri –, mas há duas criaturas que eu criei, que não existiam no mundo. Uma é o Ministério do Capital Humano e a outra é o Ministério de Federico Sturzenegger: o Ministério da Desregulamentação. O conceito essencial do Ministério da Desregulamentação é um ataque frontal e direto à caixa de ferramentas neoclássica. Nunca esteve tão presente na minha mente aquele maravilhoso artigo que me transformou num libertário. Lembro-me de um dia me oferecerem o trabalho de Murray Newton Rothbard, “Monopólio e Concorrência”, que se encontra no segundo volume de Man, Economy and State. E depois de 3 horas a ler aquele artigo de 140 páginas, e depois de 25 anos a ensinar Microeconomia, acabei de ler o artigo e disse: tudo o que ensinei nos últimos 25 anos sobre estrutura de mercado está errado. E nesse dia tornei-me um anarcocapitalista.
Quando olhamos para as estatísticas do crescimento económico per capita e do PIB per capita desde a era cristã, verificamos que têm a forma de um stick de hóquei. E, se virmos com mais atenção, percebemos que o PIB per capita aumentou acentuadamente nos últimos 250 anos, num contexto em que a população decuplicou e a pobreza extrema, que era de 95%, hoje em dia até tem de mudar de critérios constantemente, caso contrário seria zero. Então a questão com que me deparei foi: como é que os rendimentos crescentes [à escala] que a economia neoclássica associa aos monopólios – e que, segundo o maldito ótimo de Pareto, ela diz que são maus – tinham tirado tanta gente da pobreza? Alguma coisa tinha de estar errada. E aí, digamos, quem me abriu os olhos foi Murray Newton Rothbard. Basicamente, o que se passa é que a estrutura da economia neoclássica está montada para poder provar a existência de unicidade e estabilidade no equilíbrio. E isso fez com que nos concentrássemos na matemática e não no que significava o que estávamos a dizer em termos económicos quando usávamos essa matemática. Na economia neoclássica, este problema é chamado de problema de não-convexidade. É como ter um dilema entre a fábrica de alfinetes de Adam Smith e a mão invisível. E assim, para nos mantermos na visão de Pareto da mão invisível, sacrificamos a fábrica de alfinetes. E o pior de tudo é que ficamos sem conseguir explicar o crescimento económico, porque os rendimentos constantes à escala, ou os rendimentos marginais decrescentes, fazem com que o crescimento económico desapareça.
É por isso que o artigo de Rothbard é tão inspirador, porque mostra que os monopólios só são maus se forem gerados pelo Estado – por exemplo, na emissão de moeda. E, nesse sentido, quando se regula uma empresa que tem rendimentos crescentes à escala e se quer assimilá-la a uma empresa competitiva, no paradigma neoclássico, isso mata-lhe os rendimentos crescentes. E, ao matar os rendimentos crescentes, mata-se o crescimento económico. Se quiserem um exemplo aplicado de regulamentação que mata os rendimentos crescentes e acaba com o crescimento económico, não têm de ir muito longe: basta olharem à vossa volta. A Europa é o melhor exemplo onde as regulamentações estão a matar o crescimento económico.
Portanto, com este contexto, começámos a desregulamentar a economia e a fazer reformas estruturais, como no governo de Menem, que – de acordo com um trabalho de Gerardo Della Paolera, [Carlos] Bózzoli e [María Alejandra] Irigoin – tinha sido o melhor governo da história argentina: tinha feito 100 reformas estruturais. Hoje, fizemos 25 vezes mais reformas estruturais e baixámos a inflação muito mais rapidamente do que a convertibilidade, e sem cometer expropriações, ajustando os preços relativos, respeitando os direitos de propriedade. Portanto, não tenham dúvidas de que este governo liberal-libertário é o melhor governo da história da Argentina.
Enquanto isso, também pretendemos fazer da Argentina o país mais livre do mundo, uma vez que os países mais livres são 12 vezes mais ricos do que os reprimidos, crescem duas vezes mais depressa, têm 25 vezes menos pobreza padrão e 50 vezes menos pobreza extrema.
E, como parte desta agenda, estamos também a trabalhar na abertura económica. Ao mesmo tempo, estamos também a trabalhar numa reforma fiscal que permita a concorrência entre os diferentes estados provinciais, para que as províncias também comecem a baixar os impostos. Em alguns municípios isso já está a ser feito. De facto, alguém que foi meu colega de turma na faculdade e de quem a vida me reaproximou na política, o Presidente da Câmara de Tres de Febrero, Diego Valenzuela, está a baixar os impostos, e as empresas estão a deslocar-se dos locais onde os peronistas as sufocavam para Tres de Febrero para investir, porque, basicamente, os impostos aí estão a baixar.
Por último, temos o regime de incentivos aos grandes investimentos, mais conhecido por RIGI, onde, por exemplo, há poucos dias assinámos um acordo com a empresa ENI para um investimento de 20 mil milhões de dólares, que gerará um fluxo de divisas para a Argentina nos próximos 20 anos de cerca de 200 mil milhões de dólares. O modelo está a funcionar!
Por isso, o que vos quero deixar é o testemunho de que as ideias da liberdade funcionam. Sabemos o que fazer, sabemos como o fazer. Portanto, que não nos falte a coragem de o fazer, porque somos nós que podemos levantar o mundo inteiro.
E é por isso que vos peço que tenham coragem, que entrem e joguem, e que travem a luta da política, porque não se muda a política a partir das bancadas, muda-se lutando corpo a corpo contra os políticos corruptos.
Exaltemos as ideias da liberdade! Exaltemos o Ocidente novamente! Viva a liberdade, carajo!
Muchas gracias.
[Tradução e edição: Pedro Almeida Jorge]
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