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Nota Biográfica

Anders Chydenius

História, Liberalismo e Capitalismo, Biografias

Português

Anders Chydenius (1729–1803) é uma das mais influentes figuras políticas da história de dois grandes países, Suécia e Finlândia, mas é também, provavelmente, um dos mais subvalorizados pensadores do Século das Luzes. As ideias que exprimiu, baseadas no valor fundamental que é a Liberdade e transmitidas de modo eloquente e perspicaz, foram pioneiras na defesa da economia de mercado livre, anti-mercantilista e anti-monopolista, assim como dos direitos dos trabalhadores e respectiva auto-determinação. Pode dizer-se que Chydenius foi fortemente influenciado pelos fisiocratas franceses que, naquela época, surgiram traduzidos para o idioma sueco, mas a experiência pessoal enquanto membro de comunidades rurais foi determinante na forma como cimentou o pensamento liberal. O conceito do equilíbrio natural e harmonioso que é atingido quando é permitido a uma economia ser livre foi ilustrado nos seus textos, nomeadamente O Ganho Nacional (1765), vários anos antes de ter sido popularizada, com o mesmo sentido, a “mão invisível” de Adam Smith. Contudo, a sua luta não se restringiu à economia. Enquanto político, seja nos panfletos seja nas intervenções que fez no Parlamento Sueco, defendeu a liberdade de expressão, de informação e religiosa. Chydenius advogou pela igualdade natural de todas as pessoas e pela atribuição dos mesmos direitos a todos, independentemente da classe social, promovendo a democracia e tornando-se precursor da defesa do que hoje conhecemos por Direitos Humanos.

A forma como escreveu as suas ideias diz muito sobre o que foi a própria vida, recheada de experiências que viriam a moldar a sua base ideológica.

Nascido e criado no outrora subdesenvolvido norte da Finlândia, que ainda pertencia ao Reino da Suécia, começou por ter aulas particulares com o pai Jacob. Juntamente com o irmão Samuel, prosseguiu a escolarização em vários locais da Finlândia, até que ambos foram aceites, em 1745, na Academia Turku. Por fim, rumaram à Universidade de Uppsala, perto de Estocolmo, onde os estudos incluíram Teologia, Matemática, Ciências Naturais, Latim e Filosofia.

Em 1753, após término dos estudos universitários, retornou à Finlândia como pregador de uma paróquia da província da Ostrobótnia. Dois anos depois, casou-se com Beata Magdalena Mellberg, filha de um comerciante do porto de Pietarsaari, com quem não chegou a ter filhos. Aqui, participou em diversas actividades práticas ligadas à vida rural, como limpeza de pântanos, experiências com novas espécies de plantas e animais ou a exploração de novos métodos de cultivo. Um dos seus primeiros escritos foi um ensaio sobre o desenvolvimento, tanto do ponto de vista teórico como experimental, de um vagão agrícola mais eficiente, no âmbito de um concurso promovido pela Academia de Ciências sueca. O envolvimento e cooperação com os camponeses em inovações agrícolas do momento, como a plantação de tabaco, por exemplo, não deixaram de causar alguma controvérsia. Como disse Johan Norberg, eventualmente o mais famoso liberal sueco dos nossos dias, tal mentalidade no séc. XVIII teria como equivalência nos dias de hoje a de um clérigo que incentivasse a plantação de cannabis ou de produtos hortícolas geneticamente modificados. Também exerceu medicina, fazendo pequenas operações e preparando alguns medicamentos, e chegou mesmo a ficar famoso por inocular o povo comum contra a varíola. Representava assim a denominada Era da Utilidade, período em que os suecos foram incentivados a inovar nas actividades práticas, numa altura em que a grande maioria da população trabalhava no campo, fazendo experiências e utilizando ferramentas que os próprios desenvolviam domesticamente.

Mais tarde, Chydenius começou a abordar questões sociais nos seus escritos, como a defesa dos direitos de livre-comércio marítimo para as cidades da província da Ostrobótnia, iniciando aqui a vida política. Em 1765-66, aclamado como escritor e orador, foi nomeado para o Parlamento Sueco como representante dos assistentes de pároco dessa mesma província. Neste curtíssimo período, enfocou o seu trabalho nas necessidades dos camponeses que conhecia de vivência próxima, conseguindo, por exemplo, que lhes fosse permitido o acesso directo à marinha mercante em águas suecas. O mais relevante feito político de Chydenius começou com a publicação do seu memorando, em 1765, sobre a Liberdade de Imprensa, e prosseguiu com a liderança de um comité parlamentar que trabalhou de forma a abolir a censura em todos os artigos não-religiosos (os artigos religiosos permaneceriam sob o controlo da Igreja) e a garantir o livre acesso de todos os cidadãos a todos os documentos oficiais e relatórios de comités parlamentares, movimento que os conservadores desdenharam mas não conseguiram travar. Desta forma, em 1766, a Suécia tornou-se o primeiro país do mundo a incluir nos termos da Constituição a garantia da Liberdade de Imprensa e o acesso livre dos cidadãos à informação. Outra importante reforma conseguida por Chydenius teve que ver com o que tanto ele como outros radicais do seu tempo achavam ser um exagerado domínio aristocrático sobre as políticas económicas públicas, controladas por um “comité secreto” constituído em 50% pela Nobreza, em 25% pelo Clero e em 25% pela Burguesia, não tendo qualquer representação dos camponeses, apesar de pagarem a maior parte dos impostos. Após intensa disputa com o “comité secreto”, este acabou desprovido dos poderes de controlo financeiro, que foram transferidos para as sessões do parlamento, onde os camponeses tinham igual oportunidade de controlar a utilização dos fundos públicos.

O seu radicalismo e forte influência política eram cada vez mais vistos como uma ameaça pelos conservadores. Em 1766, aproveitaram uma crítica de Chydenius a uma resolução parlamentar sobre política monetária para o acusar de violar a Constituição, pressionando o Clero a castigá-lo. Acabou expulso do Parlamento Sueco pelo próprio partido nesse mesmo ano, apesar da relutância de muitos membros do Clero, que consideravam um mero subterfúgio o motivo da punição, e de anos mais tarde se ter provado que Chydenius tinha razão nas críticas que fez. Acabou por só voltar ao parlamento em 1778-79 e em 1792, mas nunca mais com o tamanho impacto político.

Em 1770, voltou à província da Ostrobótnia, desta vez para se instalar em Kokkola, onde se dedicou essencialmente ao trabalho paroquial e administrativo, mas a escrita de índole política não cessou. Além disso, era um fervoroso adepto de música, estando entre os fundadores de uma orquestra de câmara naquele município.

Por fim, não será descabido dizer que, para entender na totalidade a essência do modelo político, económico e social dos países nórdicos, que alia o pragmatismo capitalista a uma sensibilidade social face à igualdade de direitos e oportunidades, e descortinar a sua raiz filosófica mais profunda, ler os textos de Chydenius é imprescindível. No entanto, apesar da importância, da forte influência no percurso político da região e do valor da sua obra, manteve-se relativamente desconhecido no resto do mundo.

João Robalo.

Instituto +Liberdade

Em defesa da democracia-liberal.

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