Intervencionismo e Protecionismo, Liberalismo e Capitalismo, Economia, Excertos e Ensaios, Nível Introdutório
Tal como os esquadrões de bloqueio, os direitos aduaneiros são uma aplicação de força, e têm o mesmo objetivo – impedir o comércio. A diferença entre ambos é que, enquanto os esquadrões de bloqueio são um meio de uma nação impedir que os seus inimigos façam negócios, os direitos aduaneiros são um meio de uma nação impedir que o seu próprio povo faça negócios. O que o protecionismo nos ensina é a fazermos a nós próprios em tempo de paz o que os nossos inimigos nos fariam em tempo de guerra.
Poderá haver uso mais indevido da linguagem do que quando se adotam para o comércio termos que sugerem conflitos e se diz que uma nação invade, submerge, sobrecarrega ou inunda outra com bens? Bens! O que são eles senão coisas boas – coisas que todos gostamos de obter?
Pode ser do interesse de um comerciante que as pessoas do seu bairro sejam proibidas de fazer compras noutros estabelecimentos que não o dele, de modo que tenham de aceitar os bens que ele escolha vender, aos preços que ele escolha cobrar, mas quem é que argumentaria que isto seria vantajoso para a generalidade do bairro? Membros partidos resultam em honorários para os cirurgiões, mas teriam os municípios vantagem em proibir a remoção de gelo dos passeios para encorajar as cirurgias? Porém, é segundo essa lógica que os direitos aduaneiros atuam. Em termos económicos, qual é a diferença entre restringir a importação de ferro para beneficiar os produtores de ferro e restringir as melhorias sanitárias para beneficiar as agências funerárias?
Qualquer taxa que aumente os preços para encorajar determinada indústria, leva necessariamente ao desencorajamento de todas as outras indústrias em que entram os produtos dessa indústria. Assim, uma taxa que aumente o preço da madeira desencoraja necessariamente as indústrias que usam a madeira, desde as que estão ligadas à construção de casas e navios, às que que se dedicam à fabricação de fósforos e palitos de madeira; uma taxa que aumente o preço do ferro desencoraja as inúmeras indústrias em que o ferro é usado; uma taxa que aumente o preço do sal desencoraja o produtor de laticínios e o pescador; uma taxa que aumente o preço do açúcar desencoraja o conservador de fruta, o fabricante de xaropes e sumos concentrados, e assim por diante. Portanto, torna-se evidente que cada nova indústria protegida diminui o incentivo daquelas que já se encontram protegidas.
Por vezes, diz-se que a proteção não aumenta os preços. Como resposta, basta perguntarmos: então como é que ela pode encorajar a indústria? Dizer que um direito protecionista encoraja o produtor doméstico sem que haja um aumento de preços é o mesmo que dizer que o encoraja sem que lhe sirva de nada.
Homens de nações diferentes fazem negócios entre si pela mesma razão que homens da mesma nação o fazem – porque consideram que lhes é lucrativo; porque, por essa via, obtêm o que querem com menos trabalho do que lhes seria possível de outro modo.
Comércio não é invasão. Não envolve agressão de um lado e resistência do outro, mas sim mútuo consentimento e gratificação. Não pode haver comércio a menos que as partes estejam de acordo, tal como não pode haver uma querela a menos que as partes divirjam.
O comércio, ao permitir-nos obter cada uma das coisas de que necessitamos vindas do local mais adequado à sua produção, permite-nos utilizar os maiores poderes da natureza na produção de todas elas.
Se impedir o comércio estimulasse a indústria e promovesse a prosperidade, então os locais em que o homem estivesse mais isolado revelariam os primeiros avanços da humanidade. A proteção natural proporcionada à indústria doméstica por cadeias montanhosas acidentadas, desertos abrasadores ou mares demasiado amplos e tempestuosos para as frágeis embarcações dos primeiros marinheiros ter-nos-ia dado os primeiros vislumbres da civilização e mostrado o seu mais rápido crescimento. Mas, na verdade, é onde o comércio pôde ser mais bem conduzido que encontramos o início da acumulação de riqueza e da civilização. É em portos acessíveis, junto a rios navegáveis e a estradas muito percorridas que encontramos cidades a erguerem-se e as artes e as ciências a desenvolverem-se.
O comércio sempre foi o extintor da guerra, o erradicador do preconceito e o difusor do conhecimento. É através do comércio que sementes e animais úteis, artes e invenções úteis, têm percorrido o mundo, e que homens de um lugar passaram a ter a possibilidade não só de obter os produtos, mas também de beneficiar com as observações, descobertas e invenções de homens de outros lugares. A perspicácia é apurada, as línguas são enriquecidas, os hábitos e os costumes são comparados e postos à prova e novas ideias são acendidas.
Os povos de maior progresso (...) sempre foram aqueles que mais contactaram e mais aprenderam com os outros.
Citações do tratado Protection or Free Trade?, publicado em 1886 pelo economista americano Henry George (1839-1897), e considerado por Milton Friedman uma das mais brilhantes defesas do livre-comércio alguma vez publicadas.
Seleção de citações: Foundation for Economic Education.
Tradução: Ana Laura Amado.
Revisão: Pedro Almeida Jorge.
Para uma recente recensão da obra, ver aqui.
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