Igor Shafarevich , Aleksandr Solzhenitsyn
História, Socialismo e Comunismo, Filosofia Política, Direito e Instituições, Economia, Sociologia, Autoritarismo e Totalitarismo
O matemático Igor Shafarevich serve-se de uma extensa bibliografia, na qual não poderia faltar Louis Baudin, para nos apresentar um retrato completo do socialismo. Desta forma, o autor afasta-se das narrativas frequentemente publicadas e que caracterizam o socialismo como um fenómeno localizado no tempo e no espaço. Ao terminar a leitura de Socialist Phenomenon (1980), não ficaremos indiferentes à complexidade do tema e, em especial, à sua abrangência e longevidade no tempo. Tomando como exemplo as matrioskas, as célebres bonecas russas, é como se as apresentações correntes do socialismo não abrissem sequer a primeira matrioska, ficando-se pelos detalhes. Shafarevich abre todas as bonecas e vai ao encontro da verdadeira essência do socialismo, precisamente a que se esconde dos nossos olhares. E somente esta abordagem completa consegue chegar ao núcleo, ao coração, à essência do fenómeno socialista, como sendo «uma das forças mais poderosas e universais activas» na história do Homem e que, tal como um vírus, tem a particularidade de ser resistente, mutante e, em consequência, perigoso.
Fernando Soares
A nossa perspectiva do socialismo tem em conta apenas uma das dimensões em que este fenómeno se desdobra. O socialismo não é apenas um sistema ideológico abstracto, mas também a encarnação desse sistema no tempo e no espaço. Portanto, tendo sido esboçado nos seus contornos como uma ideologia, devemos agora ser capazes de explicar em que períodos e dentro de que civilização o socialismo surge, seja sob a forma de doutrina, movimento popular ou estrutura de estado. Mas aqui a resposta acaba por ser muito pouco clara. Enquanto a ideologia do socialismo é claramente definida, a ocorrência do socialismo dificilmente pode ser ligada a qualquer tempo ou civilização definidos. Se considerarmos o período da história da humanidade que se seguiu à ascensão do Estado como instituição, encontramos as manifestações do socialismo, concretamente falando, em todas as épocas e em todas as civilizações. É possível, contudo, identificar épocas em que a ideologia socialista se manifesta com particular intensidade. Isto ocorre normalmente num ponto de viragem na história, uma crise como o período da Reforma ou na nossa própria era. Poderíamos simplesmente verificar que os estados socialistas surgem apenas em situações históricas definidas, ou poderíamos tentar explicar porque é que a ideologia socialista apareceu de forma praticamente acabada e completa na época de Platão. Voltaremos a estas questões mais tarde. Mas na história europeia, não podemos apontar para um único período em que os ensinamentos socialistas não existiam de uma forma ou de outra. Parece que o socialismo é um factor constante na história humana, pelo menos no período que se seguiu à ascensão do Estado. Sem tentar avaliá-lo por enquanto, devemos reconhecer o socialismo como uma das forças mais poderosas e universais activas num campo onde a história é jogada.
(...)
Parece que isto deveria ser tomado como ponto de partida de qualquer tentativa para compreender a essência do socialismo. Apesar de ser bastante geral, tal ponto de vista limita estritamente o alcance dos argumentos aplicáveis: quaisquer explicações baseadas nas peculiaridades de um determinado período histórico, raça ou civilização devem ser descartadas. É necessário rejeitar a interpretação do socialismo como uma fase definitiva no desenvolvimento da sociedade humana que se diz aparecer quando as condições estão maduras. Pelo contrário, qualquer abordagem ao socialismo deve basear-se em princípios suficientemente amplos para serem aplicáveis ao império Inca, à filosofia de Platão e ao socialismo do século XX.
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