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2024-09-25

Por +Factos

Comportamento do fogo nos incêndios de Pedrogão Grande, em 2017

Portugal voltou a ser assolado por incêndios e, mais uma vez, o eucalipto foi apontado como um dos principais responsáveis. Mas, será que é mesmo assim?

As Comissões Técnicas Independentes que estudaram os grandes incêndios de 2017 concluíram que o fator-chave para propagação dos fogos é se há acumulação de matos ou não, ou seja, se há gestão dos terrenos, destacando ainda a diferença entre o eucaliptal normal e o industrial.

Os relatórios das Comissões Técnicas Independentes (CTI) que estudaram os grandes incêndios de 2017 (em Junho e Outubro) demonstram, através de vários tipos de simulações do comportamento do fogo com o sistema AMICUS, para vários cenários de combustível e meteorologia, que o tipo de combustível em que a velocidade de propagação dos fogos foi superior, foi o mato, seguindo-se o pinheiro bravo e, só depois, o eucalipto. Vários estudos académicos corroboram esta realidade, nomeadamente Barros & Pereira (2014) e Colaço (2017).

O gráfico apresentado (observações IPMA, vento local) é referente ao dia em que deflagrou o incêndio de Pedrógão Grande (17 de Junho), o incêndio mais trágico de que há memória em Portugal, que vitimou 66 pessoas.

Há também uma diferença significativa entre o eucaliptal normal e o eucaliptal industrial. A velocidade de propagação no eucaliptal industrial é mais baixa, refletindo a importância da gestão dos terrenos, para além do tipo de combustível em questão. A CTI relativa aos incêndios de Outubro apontou, como exemplo mais óbvio desta premissa, o facto de, nas áreas de eucalipto sob gestão industrial das celuloses, o fogo não ter tido grandes hipóteses de progredir. Aliás, os dados da CTI mostram uma “diminuição da severidade do fogo para maiores taxas de ocupação por eucalipto, e o seu aumento quando os matos estão mais representados”.

O pinheiro bravo e o eucalipto foram as espécies que mais arderam em 2017, pois eram também essas as espécies dominantes. Mas a CTI destaca “a redução da probabilidade de arder de povoamentos puros com a redução dos matos no seu sob-coberto”. Ou seja, onde há gestão. O que realmente faz a diferença é a existência ou não de matos nestas áreas. “As áreas de eucaliptal puro com mato arderam numa percentagem de 14,6% da área existente em comparação com as áreas sem matos em que essa percentagem foi apenas de 6,0%”, conclui a CTI.

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