2022-09-23
Por +Factos
Portugal tem um grave problema relacionado com o mercado de habitação, ou melhor, com a capacidade financeira da maioria da população para adquirir habitação aos preços que se praticam actualmente (especialmente nos grandes centros urbanos). O preço das habitações disparou ao longo da última década em Portugal, sendo que os rendimentos dos portugueses cresceram a um ritmo lento neste período, tornando a aquisição de habitação um sonho quase inalcançável para grande parte da população. Com a inflação a atingir valores históricos e com a subida das taxas de juro no crédito à habitação, que se começa a verificar (e com previsão de forte crescimento nos próximos meses), o panorama não irá certamente melhorar.
Esta realidade do mercado de habitação está, em grande parte, relacionada com um desequilíbrio que se começou a verificar em 2014 e que, desde então, se tem vindo a agravar.
As graves crises económico-financeiras (Grande Depressão de 2008 e Crise das Dívidas Soberanas na Europa, que obrigou à intervenção externa em Portugal), “arrefeceram” o mercado da habitação em Portugal, levando à quebra da procura (nesta análise utiliza-se a transação de alojamentos familiares como "proxy" para a procura, no entanto a procura real é superior, porque inclui também quem, apesar de procurar activamente, ainda não conseguiu comprar casa), da nova oferta (novos fogos concluídos), e dos preços (House Price Index do Eurostat). No entanto, a partir de 2014, o mercado começou a recuperar e a estabelecer-se o desequilíbrio que nos acompanha até aos dias de hoje.
A procura de habitação disparou, tendo o número de transacções de alojamentos familiares passado de 69 mil, em 2014, para 166 mil, em 2021, (um recorde, logo após uma ligeira quebra relacionada com a pandemia covid-19). Entre 2009 e 2021 houve um incremento de 66%. Por outro lado, a oferta tem recuperado a um ritmo muito mais lento, sendo que o número de novos fogos concluídos apenas recuperou de 8 mil, em 2014 (7 mil em 2015, o ano em que se verificou o menor número de construções), para 19 mil, em 2021, sendo 60% inferior ao que se verificou em 2009. Em 2021, as novas construções representavam apenas 11% das transacções de alojamentos.
Este desequilíbrio reflecte-se, naturalmente, no preço das habitações. O "House Price Index" cresceu 58% entre 2009 e 2021, sendo que se analisarmos apenas entre 2014 e 2021, o incremento foi de 74%.
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