2022-02-01
Por David Henderson
O economista americano David Henderson dá-nos conta de um recente inquérito realizado junto de 43 economistas de prestigiadas universidades americanas que revela que o atual consenso na profissão é de que o controlo governamental dos preços de mercado não é uma boa maneira de lidar com a inflação.
O inquérito do mês passado da "Iniciativa sobre Mercados Globais" da Booth School of Business da Universidade de Chicago inclui a seguinte afirmação:
Controlos de preços como aqueles que foram implementados nos anos 70 seriam capazes de reduzir com êxito a inflação dos EUA ao longo dos próximos 12 meses.
Aos 43 economistas inquiridos, todos eles associados a universidades de prestígio, é perguntado se discordam, se discordam profundamente, se concordam, se concordam profundamente ou então se não têm a certeza. É-lhes também dada a opção de dizerem que não têm opinião formada ou de não responderem.
0 concordaram profundamente, 10 concordaram, 21 discordaram, 4 discordaram profundamente, 5 não têm a certeza, 1 não tem opinião formada e 2 não responderam. Assim, 25 dos 43 discordaram ou discordaram profundamente.
Porque é que nem todos eles discordaram – o que, a meu ver, seria o mais expectável, tanto com base na lógica económica mais básica a respeito do controlo de preços, como também com base na nossa má experiência dos anos 70?
Uma das razões é que alguns dos economistas inquiridos leram a pergunta com mais atenção do que eu. Eu entendi que a afirmação se referia ao custo efetivo de adquirir bens de uma determinada qualidade. É sabido que o controlo de preços conduz à redução da qualidade e também aumenta o custo em termos de tempo necessário para a aquisição de determinados bens [i.e. gera escassez e filas de espera].
Porém, não resultava claro da afirmação que estes factores devessem ser considerados.
A minha suposição é que aqueles que expressaram desacordo tinham em mente algo parecido com o que eu próprio considerei. Alguns deles, como Robert Shimer da Universidade de Chicago, expressaram-no. E muitos dos que expressaram acordo assinalaram que o valor da inflação reportada poderia baixar, mas que haveria problemas enormes.
Eis os comentários de 9 dos 10 que manifestaram acordo e que se deram ao trabalho de apresentar os seus motivos:
Daron Acemoglu, MIT. Controlos de preços, por definição, reduziriam o aumento de preços, mas gerariam muito provavelmente outras enormes distorções.
David Auto, MIT. Controlos de preços podem, naturalmente, controlar preços – mas são uma péssima ideia!
Darrell Duffie, Stanford. Com exceção de eventuais cotações ilegais de preços, a afirmação parece ser mecanicamente verdadeira. Uma questão mais interessante é saber se o controlo de preços é uma boa ideia.
Aaron Edlin, Berkeley. Os controlos de preços conseguiriam reduzir temporariamente a inflação à custa de escassez e possivelmente nova inflação mais adiante.
Oliver Hart [Prémio Nobel], Harvard. Poderiam reduzir a inflação, mas a consequência seria escassez e racionamento.
Kenneth Judd, Stanford. Sim, poderiam reduzir a inflação no curto prazo – mas apenas temporariamente –, tal como aconteceu com os controlos de 1971. Demasiada criação de dinheiro.
Eric Maskin [Prémio Nobel], Harvard. Imagino que o controlo de preços conseguisse conter a inflação – mas isso não significa que tais controlos sejam uma boa ideia.
Jose Scheinkman, Columbia University. Poderiam reduzir a inflação medida, mas gerariam ineficiências e levariam a inflação ainda mais elevada quando os controlos fossem levantados (veja-se EUA 1974).
Richard Schmalensee, MIT. Ao longo de 12 meses, provavelmente; mas com custos significativos.
Note-se que todos os 9 afirmam, basicamente, que o controlo de preços é uma má ideia. A única pessoa que manifestou acordo mas não especificou os seus motivos foi Amy Finkelstein do MIT.
4 dos 5 que manifestaram incerteza indicaram os problemas que são tipicamente apontados por aqueles que criticam os controlos de preços:
Robert Hall, Stanford. Alguns analistas consideram que a elevada inflação de 1974 foi o resultado dos controlos anteriores, o que indicia alguns dos efeitos dos controlos.
William Nordhaus [Prémio Nobel], Yale. Talvez pudessem reduzir a inflação no curto prazo, como nos anos 70. Só causariam mais escassez e são uma péssima ideia.
Carl Shapiro, Berkeley. O que significa “com êxito”? Os aumentos de preços poderiam em certa medida ser controlados, mas os problemas de oferta subjacentes seriam agravados.
James Stock, Harvard. Poderá registar-se algum êxito efémero devido à forma como a inflação é medida, mas a mais longo prazo o controlo de preços seria ineficaz.
Portanto, 9 dos 10 que concordaram acham que o controlo de preços é uma má ideia e 4 dos 5 que manifestaram incerteza consideram-nos uma má ideia. Acrescentem-se estes 9 e 4 aos 21 e 5 que discordaram ou discordaram profundamente, e temos 39 em 43 que são explicitamente críticos do controlo de preços.
Nem um só afirmou que o controlo de preços era uma boa ideia.
A propósito, ainda que eu não costume elogiá-lo com frequência, adorei a justificação que Austan Goolsbee, da Universidade de Chicago, apresentou para a sua resposta de Discordância Profunda:
Parem. A sério.
Figura: Demonstração gráfica da escassez gerada pelo controlo de preços.
[Artigo originalmente publicado no site EconLog, blog de economia do Liberty Fund. Tradução: Francisco Silva. Revisão: Pedro Almeida Jorge. Também disponível em versão áudio no Podcast +Liberdade.]
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